Artigo de Edmilson Mário Jacoub

24-06-2014 20:59

Zoológico da Vila Guilherme? Zoológico da Vila Maria? Alguns moradores mais antigos das duas vilas têm certeza da localização do zoológico, cada qual puxando a sardinha para sua brasa, é claro. Ou o zoológico para o seu bairro. Eu sou da Vila Maria e puxo um pouquinho para cá. Nem preciso, pois o zoológico se localizava na Rua do Imperador, na esquina com Rua Hernani Pinto. A primeira se estende pelos dois bairros, mas a segunda pertence totalmente à Vila Maria. 

Portanto, finco o pé: zoológico da Vila Maria. Sei que os “contras” vão argumentar que bem em frente ao zoológico, junto a frondosas árvores havia o ponto final do ônibus Vila Guilherme... Respondo que isso é um mero acaso. Para assumir, então, certa neutralidade nesta polêmica, vou tratá-lo pelo terceiro nome: Zoológico do Agenor.

Esteve aberto de 1942 até 1975. O senhor Agenor implantou seu zoológico em terreno particular onde havia uma chácara e tratava pessoalmente dos animais. Como curiosidade: havia um casal de chimpanzés que "discutia" constantemente, terminando sempre em empurrões, o macho querendo expulsar a fêmea da jaula. O ponto culminante dessas "brigas" acontecia com o macho arremessando fezes sobre os frequentadores, provocando grande correria.

Foi o segundo zoológico da cidade de São Paulo. O primeiro foi fundado pelo médico Carlos Botelho, no final do século XIX, em suas terras na Aclimação. Em 1939 a Prefeitura de São Paulo comprou a área e fundou o Parque da Aclimação. Em 1942 os animais foram entregues ao zoológico do Agenor. O zoológico da Água Funda foi inaugurado em 1958. 

Agenor morreu tratando da elefanta Bruma. Muito já se falou disso e alguns escreveram sobre o fato. Para a pior das verdades, que foi a morte do Agenor, existem algumas versões. Na primeira, na qual não acredito, Agenor se exibia com a cabeça sob uma das patas da elefanta quando o animal o pisoteou. O homem não era dado a esses exibicionismos, por isso não creio. Outra versão conta que Bruma o atacou por ciúme de um filhote. E outra, mais curiosa, mostra que a elefanta o atacou por ciúme, mas não de um filhote e sim de uma égua que era sua companheira no espaço de confinamento. Esta parece ser verdadeira, pois Bruma foi levada, após o terrível acidente, ao zoológico da Água Funda, onde só se acalmava com a presença da égua. Lá morou até sua morte sem registro de nenhum outro acidente.

Bruma nasceu na Índia e cresceu no Egito onde, dizem, sofreu maus tratos de um adestrador. Outro fato curioso a respeito do Zoológico do Agenor era a presença constante de um desenhista que era visto fazendo dos animais modelos vivos. Tais desenhos foram parar em inúmeras revistas de quadrinhos das décadas de 1950 e 1960. O desenhista era Jayme Cortez, nascido em Lisboa em 1926 e falecido em São Paulo no ano de 1987, chegou ao Brasil em 1947 e foi, entre outros méritos, um dos pioneiros do quadrinismo brasileiro. Os animais do senhor Agenor ficaram imortalizados pelo lápis do Jayme.

Quem também tornou o zoológico do senhor Agenor imortal foi o cineasta Wilson Gomes de Araújo. O mesmo produziu, dirigiu e atuou no filme "A Grande Fuga", de 1972. Além do próprio Wilson, estrelam Palito e Rosa Borges. O filme contém muitas cenas rodadas no zoológico. Pode-se ver a única cópia existente dessa raridade graças a quem usa o apelido de "patomite" que acredito ser filho da atriz Rosa Borges. A cópia parece estar bastante gasta, mas já nos créditos inicias a câmera passeia pelo zoológico, suas jaulas e bichos.

Na cena inicial é mostrado o lado externo do zoológico com seus muros brancos e alguns figurantes que penso serem antigos moradores da nossa região. Saudosistas e curiosos das Vilas Maria e Guilherme, estourem a pipoca. É só copiar o link abaixo.

https://www.youtube.com/watch?v=p4Jz5c2Hq-k


E-mail: mariojacoud@gmail.com
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