REVELANDO SÃO PAULO - Vila Guilherme - 2013

01-10-2013 20:42

Revelando São Paulo - Revista Comuni Q

Coluna Especial / Edição 70 
Autor: Flávia Piperno | Fotos: Danilo Brito/ agência Comuni Q
 

 

A 17ª edição do festival que celebra a cultura paulista, Revelando São Paulo, aconteceu no Parque Vila Guilherme – Trote, entre os dias 13 e 22 de setembro. Este é o quarto ano consecutivo em que o evento é realizado na Zona Norte. 
Neste ano, o Revelando São Paulo comemorou 50 edições e contou com a participação de mais de 200 municípios. O festival também trouxe uma novidade: O Verdejando, onde foram realizadas ações voltadas para a preservação do meio ambiente. O público estimado foi de 2 milhões de pessoas, sendo 200 mil nos dois finais de semana.
O evento contou com uma programação diferente todos os dias. No palco principal foram realizadas apresentações de mais de 200 grupos de cultura tradicional, entre eles, catira, orquestras de violas, fandango e dança cigana. Entre as orquestras de viola que se apresentaram estava a orquestra de Ribeirão Branco, grupo composto por 12 pessoas e que se apresenta no festival desde 2010. Uma das músicas tocadas foi o sucesso de viola “Chico Mineiro”, de autoria de Tonico e Francisco Ribeiro.
Foram realizados cortejos, como o de Ubuntu, com as irmandades de São Benedito e Nossa Senhora do Rosário, rodas de conversação com representantes de cada região e caminhada pela paz, com mais de 30 segmentos religiosos  nas ruas dos bairros da Zona Norte. 
Neste ano, o altar de Nossa Senhora Aparecida estava localizado no casarão da Praça Oscar da Silva. Os devotos puderam ir até a capela assistir missas e fazer visitação à santa.
O Espaço Fazendinha foi a animação da criançada, que pôde ver de perto diversos animais, como bois, cavalos, pônei, ovelha e búfalo. As pessoas podiam fazer passeios pelo local com charrete de bois ou a cavalo. 
Com o apoio da Abaçaí (Organização Social de Cultura), os grupos indígenas ganharam um grande destaque no festival. Com danças típicas e muita alegria, índios das tribos Tupi Guarani, Wassu Cocal, Fulnio-ô, Caigangue e Pataxós (único grupo de fora do Estado de São Paulo, vindo da Bahia) atraíram a curiosidade de quem ali passava. Eles mostravam para as pessoas os seus trabalhos e contavam um pouco da história de seus povos. 
“Nós queremos mostrar nossa cultura, pois muitas pessoas não conhecem a realidade que elas veem aqui, geralmente elas têm uma ilusão sobre o que são os índios”, disse a coordenadora das tribos e membro da Fulni-ô, Avani Florentino de Oliveira.
Eles levaram para o festival arco e flecha, pau de chuva, cocar feito com a pena original de cada aldeia, filtro dos sonhos, colares e tererês, tudo produzido por eles. O fumo é considerado proteção, eles acreditam que a cura para qualquer mal está na erva e cada tribo tem as suas tradições. 
A edição deste ano foi realizada pelo Governo do Estado, por meio da Secretaria de Estado da Cultura. 
Confira um pouco mais do que aconteceu no evento: 

Artesanato

O Revelando São Paulo contou com um pavilhão para a área de artesanato, onde foram apresentadas obras de erca de 200 municípios do Estado de São Paulo, cada um mostrando suas técnicas para transformar a matéria em peças e objetos. As pessoas que se interessavam podiam ver o processo de criação. Além dos clássicos, como tricô, bordados e trabalhos feitos em madeira, este ano estavam em destaque o Trançado e o Espaço Cerâmica. 
O Trançado mostrou o trabalho dos artesãos. Andreia dos Santos, de São Bento de Sapucaí, monta com a palha de milho diversos artigos para decoração, como flores e vasos. “A nossa tradição é a palha de milho e de bananeira. Começou há muitos anos, quando não existia colchão e a cama, que era chamada de catre, era feita apenas de madeira trançada. Para ter mais conforto, as pessoas faziam com a palha de bananeira uma esteira, para colocar em cima da cama. Isso foi passando por gerações, ocorrendo suas mudanças, e hoje virou artesanato. Algo que era necessário para a comodidade deles e hoje para nós é uma fonte de renda.”
O local contou também com uma área para o Espaço Cerâmica, onde foram mostradas diversas atrações, como o artesanato feito em argila. Rosilene, de Apiaí, contou que praticamente todo o processo é manual, o único momento que é usado máquina é para a preparação da argila. “O acabamento é feito com pedra e a pintura nós fazemos com a argila. Depois o objeto vai para o forno e está pronto.”
Outro destaque foi o senhor Francisco Vieira Santos, mais conhecido como Chico Santeiro, da região de Votorantim. Famoso por fazer peças de madeira sobre arte sacra, Chico conta que tem 2.200 peças feitas e, dentre elas, algumas estão espalhadas por 70 igrejas do Brasil, além das que foram vendidas para países como França, Itália, Alemanha, Portugal e Japão. Ele participa do Revelando São Paulo há 13 anos e contou que o evento foi o começo de sua carreira como artesão. “O festival foi o meu primeiro passo. Foi aqui que comecei e que encontrei a força maior da venda do meu trabalho.”

Culinária

O festival contou com a culinária de pelo menos 100 municípios do Estado de São Paulo, mostrando uma rica diversidade de pratos feitos até mesmo em fogão à lenha, atraindo assim a atenção e curiosidade das pessoas.
Entre alguns dos pratos apresentados estava o da região de Jambeiro, aonde o prato típico é o feijão tropeiro, composto de feijão, arroz branco, farofa de bacon, virado de couve e torresmo a pururuca, e para acompanhar é feita uma cachaça na região, que é envelhecida em tonel de umburana. Na região de Taubaté o prato típico é composto por feijão, farofa de abobrinha, torresmo e linguiça. E de São Roque foi levada uma variedade de queijos e vinhos.
Alguns pratos, como o da região de Pariquera-Açu, continham uma história. O lanche “buraco quente” surgiu há 60 anos, sendo composto por pão francês, linguiça, bacon, tomate, cebola e cheiro verde. “Não havendo rodoviária na cidade, o ponto de ônibus era em frente ao bar de um senhor chamado Benedito Galglitz. Como ele fazia esse lanche, que era barato e alimentava bem, as pessoas passavam por lá e comiam depois das viagens, às vezes longas. Inclusive, muitas pessoas do Estado conhecem o lanche, pois iam até a cidade passear e desciam no ponto em frente ao bar”, conta a cozinheira, Luzia Padovan.
Na região de Santa Fé do Sul foi apresentada a “cachaça Sabor da Estância”, que ganhou sete vezes como a melhor cachaça do Estado de São Paulo. No estande foi apresentada uma enorme variedade de cachaças, que iam desde as tradicionais até com extrato de fruta, como abacaxi, pêssego, morango, tutti frutti, canela, canela com mel, menta, frutas vermelhas e coco. Tinha também a parte de licores, onde o destaque foi o licor de jabuticaba, que é feito com a fruta da própria chácara dos donos.
Entre as regiões que estavam expondo os doces, estava São João da Boa Vista. Dora Rossi é responsável por 36 tipos de doces caseiros. “Faço doces cristalizados e doces de corte, que são: Doce de leite, pé de moça, pé de moleque e paçoquinha. Eu fabrico juntamente com o meu esposo na nossa casa. Fazemos vários eventos na cidade, e no Revelando São Paulo eu já estou há 15 anos. A divulgação por aqui me ajuda muito nas vendas.”

Verdejando

Projeto novo do festival Revelando São Paulo, o Verdejando trouxe ações de conscientização ambiental para a população e contou com uma programação extensa, que estava no espaço institucional do evento: Ecobairro e Praça Verde. 
No Ecobairro o público pôde conferir o minhocário caseiro e foram oferecidas conversas sobre hortas e plantio, casa saudável e sustentável, mobilidade urbana, energia, água, termocultura, atividades interativas, painéis sobre saúde, economia, cultura, espiritualidade, diversidade de ecologia e sustentabilidade.
A Praça Verde disponibilizou uma exposição de mudas de árvores nativas de diversos municípios de São Paulo. Das cidades representadas, 25 produtores eram de Suzano, trazendo uma grande horta de plantas hidropônicas para que as pessoas conhecessem de perto esse processo. Foram mostradas orquídeas e bromélias dos municípios de Jarinu e Guararema e ficou em exposição também as novidades Jardim Vertical e o Sky Planter. 
Tendo sistema de micro irrigação, que permite regar e nutrir as plantas, o Jardim Vertical é visto como uma ideia criativa. “Como ele é suspenso na parede, ele possibilita manter um jardim em qualquer ambiente, externo ou interno, não ocupando espaço do chão”, comenta o biólogo Luiz Rodrigo Pisani Novaes.  
O Sky Planter é o vaso que é montado no teto, de ponta cabeça. Importado, ele foi desenvolvido na Nova Zelândia e veio para o Brasil justamente por ser uma tecnologia nova, que permite que as pessoas tenham suas plantas em pequenos espaços. “Assim como o Jardim Vertical, sua tecnologia é de micro irrigação. A água é colocada em cima do vaso e não cai, ela vai mantendo úmida a base da planta, possibilitando que a mesma fique de ponta cabeça”, completa o biólogo. 
A ideia principal do Verdejando foi falar da importância da preservação, demonstrando ações de plantio. Por exemplo, uma EMEI (Escola Municipal de Educação Infantil) recebeu uma muda de ipê e as crianças foram tutoras da árvore, fazendo o plantio da mesma. Também houve plantio no Parque do Trote e na capela onde aconteceram vigílias religiosas. Nos finais de semana do evento foram distribuídas mudas pelos estagiários do parque, que orientaram as pessoas sobre a forma de cuidar.